Exposição Individual Solo Exhibition
Antiga Escola Primária de São Mamede de Ribatua, Alijó
09.04.2022 — 11.06.2022
A exposição “Chamar à pedra, Fraga” de Alexandre Delmar apresenta o resultado do projeto com o mesmo nome, desenvolvido na aldeia de S. Mamede de Ribatua entre Março e Abril de 2022, durante a residência artística Vivificar promovida pela Plataforma de Fotografia CI.CLO.
Trata-se, sobretudo, de uma mostra processual do trabalho feito neste (e sobre este) território, que reuniu materiais tão diversos como fotografias, mapas, desenhos, textos, objetos reais e manipulados, trilhas sonoras e vídeos. Em simultâneo, podemos olhar esta exposição como uma instalação site-specific, já que o espaço onde aconteceu — a Escola Pré-Primária de São Mamede que se encontrava desactivada àquela data — acabou por actuar como um agente provocador do próprio projeto de criação.
Esta escola, que já se debatia com a escassez de alunos inscritos, tendo apenas dois no ano de 2020, viu-se obrigada a fechar temporariamente por causa da crise sanitária da covid-19, acabando por não reabrir. Permaneceu intocada desde então, sendo que todo o material necessário ao ensino continuava lá aquando da chegada do Alexandre Delmar, num aparente funcionamento pleno: mesas, cadeiras, quadros, giz, réguas, esquadros, canetas, marcadores, lápis de cera, cartolinas, expositores de parede, brinquedos, livros, etc. Inclusivamente, uma côdea de pão encontrada num canto da sala de aula acabou por ser incorporada na exposição, como resquício do último lanche.
Delmar decidiu voltar a habitar aquele espaço durante o período da residência, montando lá o seu estúdio fotográfico e espaço de trabalho, o que acabou por influenciar profundamente o desenrolar do projeto.
Ao nível conceptual, estabeleceu um diálogo com os temas das crianças — a alimentação saudável ilustrada na roda dos alimentos, os desenhos das paisagens nas diferentes estações do ano, os números, as formas geométricas (quadrado, rectângulo, círculo, triângulo), o ciclo da água, a flora, a fauna, as festividades locais, as formas de relacionamento social (“olá”, “bom dia”, “boa noite”, “por favor”, “obrigado”, os nomes próprios e apelidos). De certa forma, as questões fundamentais das crianças são os temas e os vectores essenciais do projeto: O que é o território? Como nos relacionamos com o não-humano? Como vivemos em comunidade? O que comemos e porquê? Que ficções e histórias necessitamos para viver em alteridade? Quais as ferramentas e estratégias que usamos para a sobrevivência? Que relação temos com a água? Que elementos influenciam a noção de espaço?
No que toca ao sistema expositivo, Delmar optou por fazer o mínimo de intervenção possível no espaço, apesar de ter-lhe sido dada a possibilidade de retirar todo o material e mobiliário, esvaziando por completo a escola. Essa violência não poderia fazer parte de um projeto de comunidade.
Partindo da colaboração em vez de confrontação, assumiu esta exposição como se de uma coletiva se tratasse: manteve o espaço já "programado" pelas crianças, que ocupava principalmente os painéis das paredes (com desenhos e colagens) e as zonas periféricas da sala de aula (com livros, brinquedos e jogos), adaptando a mostra aos espaços vagos na zona central. Para isso, usou o mobiliário existente tirando partido das pequenas mesas de estudo e das cadeiras das crianças para a construção da estrutura expositiva de suporte horizontal, criando uma nova ordem no espaço de aula. Fez uso das mesas à imagem da rebeldia das crianças, desenhando mapas e escrevendo as legendas diretamente nos seus tampos. O sistema de elevação das fotografias impressas aplicadas em dibond de 3mm, foi feito com recurso a brinquedos, maioritariamente peças de lego.
As televisões antigas da escola foram reabilitadas para apresentar os 3 vídeos criados sobre as Pedras Escavadas, e o obsoleto rádio com leitor de CD foi o equipamento escolhido para tocar a faixa sonora intitulada "Alfabeto de alcunhas de São Mamede de Ribatua", com listagem compilada por Miguel Cartagena e narração da Letícia Carvalho com a Ana Rita Taveira, as duas últimas alunas desta escola. Relativamente à iluminação, uma dominante de cor amarela foi dada à sala de aula através da aplicação de vinis vitrais, com o objetivo de apaziguar a profusão de tons e informação, e em simultâneo foi adicionada uma estrutura leve de luz pontual, composta por cablagem torcida, lâmpadas e casquilhos, direcionada para as imagens/objetos que se queriam destacar.
A exposição estende-se por todas as divisões da Escola Primária de São Mamede, apesar de a sala de aula ter sido aquela onde mais se interveio.
O percurso expositivo inicia-se na entrada, seguindo para a sala de aula e culminando no refeitório. A entrada funciona como zona introdutória, mas principalmente enquanto mediadora dos outros dois espaços. Aqui ainda se encontram os bonés das crianças, mas sobretudo a imposição do estúdio de fotografia enquanto suporte expositivo, que apresenta dois esteios (pedras de xisto negro localmente usadas como suporte das vinhas), um intacto e outro fragmentado em puzzle. Na lateral, duas estantes coloridas expõem as pedras rejeitadas das minas de volfrâmio da Escadavada e da Branca, os objetos emprestados pela comunidade e os instrumentos musicais que cairam ao rio Sabor no acidente em 1983, qual Cabinet de Curiosités.
Na sala de aula induz-se um movimento circular, sem início certo mas com um claro centro, uma pedra, à volta da qual tudo parece gravitar.
Já no refeitório, que coincide com o fecho da exposição, cobriram-se as janelas com vinil preto para criar uma sala escura, um pequeno cinema improvisado com uma miscelânea de cadeiras, bancos e sofás da escola como plateia, para fruição coletiva em grande formato do vídeo performático Concerto em 13 chamamentos.
Texto por Maria Ruivo
ANO YEAR · 2022
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA ARTISTIC RESIDENCE · Ci.CLO
LOCAL LOCATION · Antiga escola primária de S. Mamede de RIbatua, Vila Real, PORTUGAL
Produção Production · Ci.CLO e Maria Ruivo
AGRADECIMENTOS SPECIAL THANKS ·
Maria João Ruivo, André Tribbense, Patrícia Geraldes, Virgílio Ferreira, Gabriela Vaz-Pinheiro, Jayne Dyer, Jon Arne Mogstad, Marta Huet Rocha, Beatriz Almeida, Ana Guimarães, José Eduardo, Sandra Borges, António Figueiredo, Miguel Cartageno, José Serôdio, António Taveira, Manuela Ligeiro, Sara Mateus, Mario jorge Vaz, Mafalda mendes, LuÍs lameiras, Padre álvaro veloso, Raquel carvalho, andreia ribeiro, João Cruz, Celestina Marinho, Letícia Carvalho, Ana Rita Taveira, junta freguesia de são mamede de ribatua.
e AND
Banda Filarmónica Philharmonic Band ·
Pedro Pinto E Ramiro Morais [percussão PERCUSSION], António Mateus [pratos PLATES], Ana Borges [clarinete CLARINET], Rui Cardoso e Pedro Santos [trompete trumpet], Ricardo Seixas e António Leite - presidente da banda [trombone], Maria de Fátima e Cláudia Lopes [tuba], Filipa Carvalho [flauta flute], Beatriz Martins [oboé oboe], António VIEIRA [trompa horn], Daniel Cartageno e Rui Leal - maestro [saxofone saxophone], Bar da Banda.
Exposição Individual Solo Exhibition
Antiga Escola Primária de São Mamede de Ribatua, Alijó
09.04.2022 — 11.06.2022
A exposição “Chamar à pedra, Fraga” de Alexandre Delmar apresenta o resultado do projeto com o mesmo nome, desenvolvido na aldeia de S. Mamede de Ribatua entre Março e Abril de 2022, durante a residência artística Vivificar promovida pela Plataforma de Fotografia CI.CLO.
Trata-se, sobretudo, de uma mostra processual do trabalho feito neste (e sobre este) território, que reuniu materiais tão diversos como fotografias, mapas, desenhos, textos, objetos reais e manipulados, trilhas sonoras e vídeos. Em simultâneo, podemos olhar esta exposição como uma instalação site-specific, já que o espaço onde aconteceu — a Escola Pré-Primária de São Mamede que se encontrava desactivada àquela data — acabou por actuar como um agente provocador do próprio projeto de criação.
Esta escola, que já se debatia com a escassez de alunos inscritos, tendo apenas dois no ano de 2020, viu-se obrigada a fechar temporariamente por causa da crise sanitária da covid-19, acabando por não reabrir. Permaneceu intocada desde então, sendo que todo o material necessário ao ensino continuava lá aquando da chegada do Alexandre Delmar, num aparente funcionamento pleno: mesas, cadeiras, quadros, giz, réguas, esquadros, canetas, marcadores, lápis de cera, cartolinas, expositores de parede, brinquedos, livros, etc. Inclusivamente, uma côdea de pão encontrada num canto da sala de aula acabou por ser incorporada na exposição, como resquício do último lanche.
Delmar decidiu voltar a habitar aquele espaço durante o período da residência, montando lá o seu estúdio fotográfico e espaço de trabalho, o que acabou por influenciar profundamente o desenrolar do projeto.
Ao nível conceptual, estabeleceu um diálogo com os temas das crianças — a alimentação saudável ilustrada na roda dos alimentos, os desenhos das paisagens nas diferentes estações do ano, os números, as formas geométricas (quadrado, rectângulo, círculo, triângulo), o ciclo da água, a flora, a fauna, as festividades locais, as formas de relacionamento social (“olá”, “bom dia”, “boa noite”, “por favor”, “obrigado”, os nomes próprios e apelidos). De certa forma, as questões fundamentais das crianças são os temas e os vectores essenciais do projeto: O que é o território? Como nos relacionamos com o não-humano? Como vivemos em comunidade? O que comemos e porquê? Que ficções e histórias necessitamos para viver em alteridade? Quais as ferramentas e estratégias que usamos para a sobrevivência? Que relação temos com a água? Que elementos influenciam a noção de espaço?
No que toca ao sistema expositivo, Delmar optou por fazer o mínimo de intervenção possível no espaço, apesar de ter-lhe sido dada a possibilidade de retirar todo o material e mobiliário, esvaziando por completo a escola. Essa violência não poderia fazer parte de um projeto de comunidade.
Partindo da colaboração em vez de confrontação, assumiu esta exposição como se de uma coletiva se tratasse: manteve o espaço já "programado" pelas crianças, que ocupava principalmente os painéis das paredes (com desenhos e colagens) e as zonas periféricas da sala de aula (com livros, brinquedos e jogos), adaptando a mostra aos espaços vagos na zona central. Para isso, usou o mobiliário existente tirando partido das pequenas mesas de estudo e das cadeiras das crianças para a construção da estrutura expositiva de suporte horizontal, criando uma nova ordem no espaço de aula. Fez uso das mesas à imagem da rebeldia das crianças, desenhando mapas e escrevendo as legendas diretamente nos seus tampos. O sistema de elevação das fotografias impressas aplicadas em dibond de 3mm, foi feito com recurso a brinquedos, maioritariamente peças de lego.
As televisões antigas da escola foram reabilitadas para apresentar os 3 vídeos criados sobre as Pedras Escavadas, e o obsoleto rádio com leitor de CD foi o equipamento escolhido para tocar a faixa sonora intitulada "Alfabeto de alcunhas de São Mamede de Ribatua", com listagem compilada por Miguel Cartagena e narração da Letícia Carvalho com a Ana Rita Taveira, as duas últimas alunas desta escola. Relativamente à iluminação, uma dominante de cor amarela foi dada à sala de aula através da aplicação de vinis vitrais, com o objetivo de apaziguar a profusão de tons e informação, e em simultâneo foi adicionada uma estrutura leve de luz pontual, composta por cablagem torcida, lâmpadas e casquilhos, direcionada para as imagens/objetos que se queriam destacar.
A exposição estende-se por todas as divisões da Escola Primária de São Mamede, apesar de a sala de aula ter sido aquela onde mais se interveio.
O percurso expositivo inicia-se na entrada, seguindo para a sala de aula e culminando no refeitório. A entrada funciona como zona introdutória, mas principalmente enquanto mediadora dos outros dois espaços. Aqui ainda se encontram os bonés das crianças, mas sobretudo a imposição do estúdio de fotografia enquanto suporte expositivo, que apresenta dois esteios (pedras de xisto negro localmente usadas como suporte das vinhas), um intacto e outro fragmentado em puzzle. Na lateral, duas estantes coloridas expõem as pedras rejeitadas das minas de volfrâmio da Escadavada e da Branca, os objetos emprestados pela comunidade e os instrumentos musicais que cairam ao rio Sabor no acidente em 1983, qual Cabinet de Curiosités.
Na sala de aula induz-se um movimento circular, sem início certo mas com um claro centro, uma pedra, à volta da qual tudo parece gravitar.
Já no refeitório, que coincide com o fecho da exposição, cobriram-se as janelas com vinil preto para criar uma sala escura, um pequeno cinema improvisado com uma miscelânea de cadeiras, bancos e sofás da escola como plateia, para fruição coletiva em grande formato do vídeo performático Concerto em 13 chamamentos.
Texto por Maria Ruivo
ANO YEAR · 2022
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA ARTISTIC RESIDENCE · Ci.CLO
LOCAL LOCATION · Antiga escola primária de S. Mamede de RIbatua, Vila Real, PORTUGAL
Produção Production · Ci.CLO e Maria Ruivo
AGRADECIMENTOS SPECIAL THANKS ·
Maria João Ruivo, André Tribbense, Patrícia Geraldes, Virgílio Ferreira, Gabriela Vaz-Pinheiro, Jayne Dyer, Jon Arne Mogstad, Marta Huet Rocha, Beatriz Almeida, Ana Guimarães, José Eduardo, Sandra Borges, António Figueiredo, Miguel Cartageno, José Serôdio, António Taveira, Manuela Ligeiro, Sara Mateus, Mario jorge Vaz, Mafalda mendes, LuÍs lameiras, Padre álvaro veloso, Raquel carvalho, andreia ribeiro, João Cruz, Celestina Marinho, Letícia Carvalho, Ana Rita Taveira, junta freguesia de são mamede de ribatua.
e AND
Banda Filarmónica Philharmonic Band ·
Pedro Pinto E Ramiro Morais [percussão PERCUSSION], António Mateus [pratos PLATES], Ana Borges [clarinete CLARINET], Rui Cardoso e Pedro Santos [trompete trumpet], Ricardo Seixas e António Leite - presidente da banda [trombone], Maria de Fátima e Cláudia Lopes [tuba], Filipa Carvalho [flauta flute], Beatriz Martins [oboé oboe], António VIEIRA [trompa horn], Daniel Cartageno e Rui Leal - maestro [saxofone saxophone], Bar da Banda.