A Argentina tinha ido lavar-se junto à Ribeira dos Neves. Lavava o resto dos sete rapazes.
Não mostrava a mínima culpa nem ressentimento. Fazia-o com a placidez e o jeito de quem lava os lençóis nas pedras do rio e os põe a branquear nas giestas.
∴
Tinha o dia ganho. Cinco coroas vezes sete. Daria para as despesas de quinze dias e ainda sobrava para ir à costureira fazer nova farda.
∴
Na aldeia havia um pacto tácito sobre a Argentina. A Aurora Samuel dizia que era a cigana mais bonita que o chofer já tinha trazido à aldeia.
Ao contrário das outras, esta emanava uma aura diferente e era tolerada talvez pelo hábito de a verem em todas as festividades, talvez pela sua beleza, pelas mezinhas que aconselhava às mulheres da aldeia ou por tudo isto.
Mas a Argentina sabia o porquê da complacência da aldeia. O objetivo daquela mulher era ser a pacificadora das violências masculinas. A Argentina tinha noção da sua relevância e retirava o valor e o prazer que lhe era devido de todos os trabalhos que fazia.
∴
O chofer Cartagena trazia as putas de Bragança quando havia romaria: Santa Bárbara, Santo André, São Sebastião, Nossa Senhora da Oliveira, S. Martinho, Santo Arsénio, Santo Ambrósio. O negócio milenar governava-se bem com os santos.
∴
A proximidade das festividades tinha um efeito preliminar nos rapazes. O padre percebeu o fenômeno e decidiu intervir.
Duas semanas antes da festa, inventou uma série de jogos masculinos para os estafar, visto que as atividades da lavoura não eram o suficiente.
Mandou o Semanas espetar um barrote de eucalipto no chão e ensebar o tronco. No cimo estavam três chouriços, um folar e vinte roscas como prémio. O desafio de tentar subir agarrado ao poste escorregadio de dez metros, sem qualquer ajuda, a não ser à força bruta, era de uma ironia vil. Mas o padre tinha agido de forma inocente ao desencantar o exercício.
Só sentiu algum desconforto quando a filha da Severa, moçoila com coxas fartas, com o peito capaz de agarrar o tronco e o prender, em desafio com os três primos emigrantes, decidiu tentar subir. Colocou a saia entre as pernas de forma a poder tocar com a pele no barrote e não escorregar. Os seios estavam divididos entre o poste alto e lá ia subindo com o povo a olhar silencioso. O corpo da mulher estava colado ao barrote ensebado. Os movimentos ascendentes de anca, davam-lhe o jeito.
Apenas conseguiu chegar a meio do pau, mas foi um belo espetáculo de se ver.
Só o Carlitos, já com uma garrafita de vinho no bucho e com o cebo do poste já meio seco, conseguiu o prémio já recesso.
Tentava-se acalmar a libido com os exercícios, mas de pouco servia.
∴
Era a festa do Santo Ambrósio e o Cartagena trazia de Bragança duas moças, uma mais velha e mais rija que a outra, mas o suficiente para o Mirandela se engalear com o João Pionas.
Guerreavam-se para saber quem seria o primeiro a ser servido. O Artur e o João Pionas seriam os primeiros a aliviar-se.
O Artur já estava em cima da mais nova e rapidamente se despachou.
A mais velha, entre as pernas, tinha a cabeça do Mirandela que dizia saber se elas tinham alguma doença. O Dirceu Borboleta espetou-lhe ainda mais a cabeça e o prendeu durante uns segundos impedindo-o de respirar. Quando saiu, esbaforido, disse: “ Esta está boa!”.
O Dirceu Borboleta era judioca. Tinha uma predisposição anormal para ter graça. Não se importava de ficar para último apenas para fazer partidas aos outros pândegos.
Enquanto se esfregava na mais velha, o João Pionas largava uns gritinhos que punham todos a rir. Tal farra não lhe retirava a concentração.
Claro que o Borboleta tinha de multiplicar a risota. Esperou até ao momento certo e puxou-lhe as pernas com tanta força que o João Pionas passou as ventas entre as pernas da mulher que o deixou com os restos de si próprio.
Agarrados à barriga, todos eles no chão, riam-se do estado da sua queixada.
O Maroncha era o único que não se ria. Apesar do seu aspecto viril e da valentia nas zaragatas com os de Morais, mantinha-se bastante distante, apesar da presença assídua nestes fados.
∴
Pensava no Agostinho Carroças e naquele dia na Eirinha.
Estavam os dois, após merendar, de papo para o ar a descansar depois de terem limpado quase todas as oliveiras do Amâncio. Eram 70 e todas elas por limpar ia fazer quatro anos. Até as machadas precisavam de descansar de tanto corte.
Comeram figos, nozes e azedas e beberam da bota de pele. O Maroncha fechou os olhos e adormeceu levemente. Acordou e sentiu que lhe mexiam nas calças. Continuou de olhos fechados e sem se mover. Sentiu que todos os botões das calças estavam abertos e o tocavam. De olhos fechados, só poderia ser um sonho e assim acreditou. A indefinição da realidade, não lhe retirava o prazer monstruoso que estava a ter.
Tentava não gemer, mas no fim não aguentou. Ainda sem abrir os olhos, com as calças abertas, virou-se para o lado e deixou-se estar.
Claro que só foi um sonho, pensava ele. Aquele calor e o vinho quente da bota sobe à cabeça de qualquer homem. Claro que era culpa do vinho.
Sentiu o Carroças a levantar-se e a pegar na machada. Foi cortar uns mamões que estavam na oliveira mais alta e que na apanha de Dezembro daria para 5 homens e 3 vareiros.
Não falaram o resto da tarde naquele dia.
∴
De pernas escarrapachadas, a mais nova aguardava novo utilizador. Era a vez do Maroncha.
∴
Quando vinham todos embora pela regada para não serem vistos, a Rosinha Peluda, espantada diz: “Ah! Filhos duma cadela, foram-se esfregar na mãe e na filha, desgraçados”.
O lapouça do chofer tinha trazido mãe e filha para o trabalho nas festividades.
∴
A Argentina andava perto. Foi a casa da Aurora que já não sabia o que fazer à taurina.
Apesar de ter tido um vitelo, o leite que devia ser farto, quando chegava a extracção para o queijo, as tetas já estavam secas. Não podia ser o vitelo a esgotar as reservas daquelas descomunais tetas.
A Aurora até retirou o vitelo à mãe e ficou de guarda a ver se algum garoto tinha ido lá de caçoilo apertar-lhe os bicos.
Não havia maneira de descobrir a razão da secura. Diz-se que, por vezes, as cobras agarram-se às tetas e chupam o leite das vacas até rebentarem. O marido já andava com o sacho junto à porta da corte para estar mais preparado para a possível chacholada no réptil. Mas quer fosse manhã, tarde ou de noite, não havia sinal da chupadora, nem as tetas tinham marcas de ferradelas.
∴
Em conversa com a Argentina, e sabendo que o diabo da mulher é perita nas artes da fertilidade, contou-lhe a história da sua vaca seca.
A Argentina recomendou-lhe colocar a junta de bois no lombo da criatura. Este instrumentos de madeira era usado também no trasorelho das crianças quando os médicos não tinham a solução. A reza era assim: “Trasorelho mono, sai-te daqui que o jugo dos bois anda em cima de ti.” E repetia-se a rezinha 9 vezes.
Assim fez. A criatura lá andou com a junta ao pescoço dentro e fora da corte.
Passados três dias incharam-se-lhe as tetas. Já quase raspavam no chão quando a Aurora encheu três caçoilos de leite.
∴
Eram nove horas. O último autocarro preparava-se para sair da aldeia. As três sentadas junto ao santinho de estrada, esperavam o transporte. Mãe e filha permaneciam caladas. A Argentina respeitou esse silêncio e pensava na Aurora.
∴
Aquela mulher casada, feita impura aos 16 anos, apenas se deitou na cama com o marido e único homem. Pariu quatro filhos no mesmo quarto que os havia encomendado e não conhecia nada do seu corpo.
A sensibilidade de mãe e mulher feita não se tinham sequer iniciado naquela criatura temente a Deus a à boa vizinhança.
Lá sabia a Aurora dos prazeres do seu marido, que das poucas vezes que se deitou com a Argentina, lhe prometeu fugir se ela o quisesse. Sabia lá a Aurora que a sua taurina, esticando o pescoço para trás, descobrira um pequeno prazer que retirava do próprio corpo: mamava o seu leite e esgotava as reservas após saciar a cria.
A Argentina percebeu imediatamente. A junta de bois só servia para impedir o movimento da cabeça na direção das tetas.
Ano year · 2023
Local location · Lagoa, Trás-os-Montes. Portugal
A Argentina tinha ido lavar-se junto à Ribeira dos Neves. Lavava o resto dos sete rapazes.
Não mostrava a mínima culpa nem ressentimento. Fazia-o com a placidez e o jeito de quem lava os lençóis nas pedras do rio e os põe a branquear nas giestas.
∴
Tinha o dia ganho. Cinco coroas vezes sete. Daria para as despesas de quinze dias e ainda sobrava para ir à costureira fazer nova farda.
∴
Na aldeia havia um pacto tácito sobre a Argentina. A Aurora Samuel dizia que era a cigana mais bonita que o chofer já tinha trazido à aldeia.
Ao contrário das outras, esta emanava uma aura diferente e era tolerada talvez pelo hábito de a verem em todas as festividades, talvez pela sua beleza, pelas mezinhas que aconselhava às mulheres da aldeia ou por tudo isto.
Mas a Argentina sabia o porquê da complacência da aldeia. O objetivo daquela mulher era ser a pacificadora das violências masculinas. A Argentina tinha noção da sua relevância e retirava o valor e o prazer que lhe era devido de todos os trabalhos que fazia.
∴
O chofer Cartagena trazia as putas de Bragança quando havia romaria: Santa Bárbara, Santo André, São Sebastião, Nossa Senhora da Oliveira, S. Martinho, Santo Arsénio, Santo Ambrósio. O negócio milenar governava-se bem com os santos.
∴
A proximidade das festividades tinha um efeito preliminar nos rapazes. O padre percebeu o fenômeno e decidiu intervir.
Duas semanas antes da festa, inventou uma série de jogos masculinos para os estafar, visto que as atividades da lavoura não eram o suficiente.
Mandou o Semanas espetar um barrote de eucalipto no chão e ensebar o tronco. No cimo estavam três chouriços, um folar e vinte roscas como prémio. O desafio de tentar subir agarrado ao poste escorregadio de dez metros, sem qualquer ajuda, a não ser à força bruta, era de uma ironia vil. Mas o padre tinha agido de forma inocente ao desencantar o exercício.
Só sentiu algum desconforto quando a filha da Severa, moçoila com coxas fartas, com o peito capaz de agarrar o tronco e o prender, em desafio com os três primos emigrantes, decidiu tentar subir. Colocou a saia entre as pernas de forma a poder tocar com a pele no barrote e não escorregar. Os seios estavam divididos entre o poste alto e lá ia subindo com o povo a olhar silencioso. O corpo da mulher estava colado ao barrote ensebado. Os movimentos ascendentes de anca, davam-lhe o jeito.
Apenas conseguiu chegar a meio do pau, mas foi um belo espetáculo de se ver.
Só o Carlitos, já com uma garrafita de vinho no bucho e com o cebo do poste já meio seco, conseguiu o prémio já recesso.
Tentava-se acalmar a libido com os exercícios, mas de pouco servia.
∴
Era a festa do Santo Ambrósio e o Cartagena trazia de Bragança duas moças, uma mais velha e mais rija que a outra, mas o suficiente para o Mirandela se engalear com o João Pionas.
Guerreavam-se para saber quem seria o primeiro a ser servido. O Artur e o João Pionas seriam os primeiros a aliviar-se.
O Artur já estava em cima da mais nova e rapidamente se despachou.
A mais velha, entre as pernas, tinha a cabeça do Mirandela que dizia saber se elas tinham alguma doença. O Dirceu Borboleta espetou-lhe ainda mais a cabeça e o prendeu durante uns segundos impedindo-o de respirar. Quando saiu, esbaforido, disse: “ Esta está boa!”.
O Dirceu Borboleta era judioca. Tinha uma predisposição anormal para ter graça. Não se importava de ficar para último apenas para fazer partidas aos outros pândegos.
Enquanto se esfregava na mais velha, o João Pionas largava uns gritinhos que punham todos a rir. Tal farra não lhe retirava a concentração.
Claro que o Borboleta tinha de multiplicar a risota. Esperou até ao momento certo e puxou-lhe as pernas com tanta força que o João Pionas passou as ventas entre as pernas da mulher que o deixou com os restos de si próprio.
Agarrados à barriga, todos eles no chão, riam-se do estado da sua queixada.
O Maroncha era o único que não se ria. Apesar do seu aspecto viril e da valentia nas zaragatas com os de Morais, mantinha-se bastante distante, apesar da presença assídua nestes fados.
∴
Pensava no Agostinho Carroças e naquele dia na Eirinha.
Estavam os dois, após merendar, de papo para o ar a descansar depois de terem limpado quase todas as oliveiras do Amâncio. Eram 70 e todas elas por limpar ia fazer quatro anos. Até as machadas precisavam de descansar de tanto corte.
Comeram figos, nozes e azedas e beberam da bota de pele. O Maroncha fechou os olhos e adormeceu levemente. Acordou e sentiu que lhe mexiam nas calças. Continuou de olhos fechados e sem se mover. Sentiu que todos os botões das calças estavam abertos e o tocavam. De olhos fechados, só poderia ser um sonho e assim acreditou. A indefinição da realidade, não lhe retirava o prazer monstruoso que estava a ter.
Tentava não gemer, mas no fim não aguentou. Ainda sem abrir os olhos, com as calças abertas, virou-se para o lado e deixou-se estar.
Claro que só foi um sonho, pensava ele. Aquele calor e o vinho quente da bota sobe à cabeça de qualquer homem. Claro que era culpa do vinho.
Sentiu o Carroças a levantar-se e a pegar na machada. Foi cortar uns mamões que estavam na oliveira mais alta e que na apanha de Dezembro daria para 5 homens e 3 vareiros.
Não falaram o resto da tarde naquele dia.
∴
De pernas escarrapachadas, a mais nova aguardava novo utilizador. Era a vez do Maroncha.
∴
Quando vinham todos embora pela regada para não serem vistos, a Rosinha Peluda, espantada diz: “Ah! Filhos duma cadela, foram-se esfregar na mãe e na filha, desgraçados”.
O lapouça do chofer tinha trazido mãe e filha para o trabalho nas festividades.
∴
A Argentina andava perto. Foi a casa da Aurora que já não sabia o que fazer à taurina.
Apesar de ter tido um vitelo, o leite que devia ser farto, quando chegava a extracção para o queijo, as tetas já estavam secas. Não podia ser o vitelo a esgotar as reservas daquelas descomunais tetas.
A Aurora até retirou o vitelo à mãe e ficou de guarda a ver se algum garoto tinha ido lá de caçoilo apertar-lhe os bicos.
Não havia maneira de descobrir a razão da secura. Diz-se que, por vezes, as cobras agarram-se às tetas e chupam o leite das vacas até rebentarem. O marido já andava com o sacho junto à porta da corte para estar mais preparado para a possível chacholada no réptil. Mas quer fosse manhã, tarde ou de noite, não havia sinal da chupadora, nem as tetas tinham marcas de ferradelas.
∴
Em conversa com a Argentina, e sabendo que o diabo da mulher é perita nas artes da fertilidade, contou-lhe a história da sua vaca seca.
A Argentina recomendou-lhe colocar a junta de bois no lombo da criatura. Este instrumentos de madeira era usado também no trasorelho das crianças quando os médicos não tinham a solução. A reza era assim: “Trasorelho mono, sai-te daqui que o jugo dos bois anda em cima de ti.” E repetia-se a rezinha 9 vezes.
Assim fez. A criatura lá andou com a junta ao pescoço dentro e fora da corte.
Passados três dias incharam-se-lhe as tetas. Já quase raspavam no chão quando a Aurora encheu três caçoilos de leite.
∴
Eram nove horas. O último autocarro preparava-se para sair da aldeia. As três sentadas junto ao santinho de estrada, esperavam o transporte. Mãe e filha permaneciam caladas. A Argentina respeitou esse silêncio e pensava na Aurora.
∴
Aquela mulher casada, feita impura aos 16 anos, apenas se deitou na cama com o marido e único homem. Pariu quatro filhos no mesmo quarto que os havia encomendado e não conhecia nada do seu corpo.
A sensibilidade de mãe e mulher feita não se tinham sequer iniciado naquela criatura temente a Deus a à boa vizinhança.
Lá sabia a Aurora dos prazeres do seu marido, que das poucas vezes que se deitou com a Argentina, lhe prometeu fugir se ela o quisesse. Sabia lá a Aurora que a sua taurina, esticando o pescoço para trás, descobrira um pequeno prazer que retirava do próprio corpo: mamava o seu leite e esgotava as reservas após saciar a cria.
A Argentina percebeu imediatamente. A junta de bois só servia para impedir o movimento da cabeça na direção das tetas.
Ano year · 2023
Local location · Lagoa, Trás-os-Montes. Portugal